Esta freguesia é
baixa inclinada ao Nascente. Parte pelo Norte com a freguesia de S. Romão de
Arões, donde dista ¼ de légua, pelo Sul com a freguesia de S. Mamede de Cepães,
donde dista ¼ de légua, pelo Nascente com a freguesia de S. Lourenço de Golães,
donde dista ½ de légua, pelo Poente com as freguesias de Fareja e Vila Nova de
Infantas, donde dista ½ légua; pertence ao concelho de Guimarães donde dista
uma légua, e ao distrito de Braga donde dista 4 léguas.
Tem dentro em si
os montes das Mêdas, de Santa Cristina, da Raposa, e da Penha ao Nascente, onde
passa aí troço da Estrada Real de Guimarães para Fafe e Basto. Ninguém sabe
dizer suas etimologias.
Avistam-se daqui
ao perto, pelo Norte, os montes de Arões a saber: Vale Mau e Chanchras, ao
Nordeste monte da Penha; ao Nascente montes de Golães, ao Sudeste monte de S.
Jorge sobre Fafe; a sul Montelongo, monte de S. Salvador e Santa Catarina, a
Oeste os montes de Fareja e Vila Nova de Infantas, ao Noroeste monte de Santo
António ou Santo Antonio; e ao longe pela parte do Sudeste a Serra da Lameira,
terá de circuito ¾ de légua.
Estes sítios são
bastante frios. Há ventos Norte, chuveiros, saraiva e neves, e da parte Sul,
máxima no Inverno, ventos fortes, sem contudo terem feito grandes prejuízos.
Os lugares da
freguesia são os seguintes: Ribeira d’Além, Gaia, Lama, Vila Pouca, Quinta,
Ribeira de Baixo, Valinhas, Pinhoe, Castanheiro-talhado, Trepeça, Mende, Veiga,
Carvalho, Mata, Capareira, Pena de Galo, Aguiarinho, Souto-Novo, Aguiar,
Boucinha, S. Pedro, Agrelo, Monte, Outeiro, Assento. Todos com pouca distância
uns dos outros.
A povoação geral é
de 300, a 350 pessoas. Não há notabilidade a referir, nem pessoa alguma de mais
de 100 anos.
Há quadrúpedes,
como são: bois, vacas, bezerros, éguas, cabras e ovelhas.
Há insectos como
nas mais partes, sem que haja coisa a notar-se a este respeito.
Há couves,
repolhos, salsa, coentros, tronchudas, e melões, e melancias.
Há macieiras,
pessegueiros, pereiras, abrunheiros, castanheiros, carvalhos, e alguns
cerquinhos, poucos pinheiros, poucas oliveiras, suficientes matos, e
suficientes águas.
Há rosas
vermelhas, e brancas, umas singelas, outras dobradas.
Há também alguns
cravos, quando os curiosos cuidam disso, assim como as flores.
O terreno produz
milhão, centeio, feijões, pouco milho alvo, e pouquíssimo trigo, de cuja
produção se sustentam os habitantes, assim como sardinhas, bacalhau, carne de
porco, e do mais, que cada um pode ter. Esta produção chega para os habitantes.
Estes vestem de
burel, Saragoça, pano de linho, serguilha, e pano azul, ou preto.
Não há minas, nem
indícios delas, nem pesca ou caça, senão para algum curioso. A terra é escassa,
e em muitas partes saibrosa, branca e avermelhada. Há muitos penedos máxime
pelos montes: pedra brava, que só serve para fazer paredes toscas e muros.
Nesta não há
mudança alguma na sua divisão excepto a militar, que presentemente tem o seu
General em Braga e não no Porto. Os impostos da Coroa, são décimas, e maneio.
Eu não sei de outros. Os eclesiásticos, ofertas e primícias. Os municipais são
mais ou menos, segundo a derrama anual da Câmara.
Nesta freguesia
não há edifícios notáveis, nem vínculos, nem inscrições antigas, nem fidalgos
de foro que eu saiba. Há um bacharel formado em Leis, um mestre de primeiras
letras pago pelo Estado, e um particular. Não há estabelecimentos públicos,
militares, literatos, nem câmara, conventos, prisões, nem hospitais. Não há
ponte de pau. Há uma pequena ponte de pedra sobre um riacho que serve para as
águas de regar, donde cada faz suas levadas para os seus campos, e é o único na
freguesia. O terreno cultivado, segundo dizem os lavradores, é tanto, ou pouco
mais que o inculto. Tem lenhas de carvalho, e poucas de pinho. Os jornaleiros
ganham comummente por dia 60 a 80 réis.
A cultura fica já
dita os instrumentos de que se servem, são: arado, cega, timão, grade,
enchadas, engaços, foices. Há aqui, ou ali poucos, e raros tortulhos, e alguns
bravios pegados às árvores.
Nesta freguesia
não há feiras. Há estanqueiro 1, cereiro 1, sapateiro 1, alfaiates 7, tendeiros
1, carpinteiro 2, barbeiro 1, proprietários 6 muito medianos, e quase sempre
empenhados, pedreiros 2, vários caseiros, e cabaneiros, com pequenos eidos,
sacerdotes, o pároco.
Não há fábricas,
nem engenhos, nem monumentos antigos, ou modernos. Há muita hera, grande
parasita.
Não há ervas
medicinais, que mereçam notar-se, nem doenças nos homens, ou animais dignas de
especial menção.
Não há gigantes,
nem pigmeus. As fisionomias são diversas, a estatura, e forças ordinárias. Na
maior ou menor fecundidade ou população em diversos anos, rigorosamente só
Deus, o autor da natureza, pode responder. As idades destas gentes andam de 70
a 100 anos.
A igreja desta
freguesia inclinada ao Nascente, é antiga, e pequena tem três altares. No
altar-mor se acha colocado o Tabernáculo do Santíssimo Sacramento, ao lado
direito uma imagem da Senhora da Graça, ao esquerdo a imagem da padroeira Santa
Cristina V.M., ao lado do evangelho tem um altar colateral com três imagens:
duas da Senhora do Rosário, e uma do Menino Jesus, do lado da epístola tem uma
imagem de Jesus Cristo Crucificado, uma de S. Sebastião, e um pequeno painel de
S. Vicente de Paula. Não tem sepulturas singulares, nem painéis, nem pratas,
algumas que haviam foram mandadas tirar daqui depois da invasão dos franceses,
e por agora tudo é pobreza. Esta igreja é do Padroado Real, e esta freguesia
para comodidade dos povos foi desmembrada da freguesia vizinha de S. Romão de
Arões em séculos antigos.
Esta freguesia é
muito pobre, o rendimento desta igreja no tempo dos dízimos com o dos passais
andaria pouco mais ou menos por 400$000 réis. A residência é próxima à igreja.
A côngrua arbitrada ao pároco actual sai: 237$890, não recebe uma boa terça
parte pela grande pobreza dos fregueses, e obstáculos que ocorrem.
Os legados desta
freguesia são os seguintes: cinco missas anuais segundo a verba do testamento
de Nicolau Pinheiro Salgado do lugar da Penha. Duas missas anuais instituídas
por Ana Gonçalves em dia da padroeira Santa Catarina. Uma missa anual, a que é
obrigado Domingos de Freitas Peixoto desta freguesia. Uma missa anual pela alma
de Ana de Sampaio, e um momento em todos os Domingos do ano, que é obrigado a
mandar satisfazer o bacharel João da Silva Ribeiro desta mesma freguesia.
Um legado
instituído por Catarina da Cunha, e sua irmã Rosa da Cunha, moradoras que foram
no lugar de Agrela desta mesma freguesia, aqui hipotecaram o campo da Landeira
no valor de seis mil réis, mas que por morte da Cunha, últimas declarações se
acha reduzido a três mil réis para missas ditas nos Domingos e dias Santos de
manhã no Altar da Senhora do Rosário, desta igreja. José Mendes de Agrela tem
de presente esta obrigação. Digo por morte de Rosa da Cunha últimas
declarações, etc. Um momento em todos os Domingos do ano pela alma de Maria de
Freitas, de que se deve pagar um tostão.
José Mendes do
dito lugar de Agrela é quem tem presentemente esta obrigação que tendo sido
cumprida pelo dito pároco, não tem sido paga pelo dito José Mendes, há 11 anos.
Dez clamores, ou votos, que nas suas calamidades fez esta freguesia e são estas
as obrigações ou legados desta paróquia.
Dito a sufrágios
há nesta igreja um Tombo, e Livro dos Usos mandados fazer por provisão de S.
Magestade, a Senhora Dona Maria Primeira, e feitos com toda a legalidade em
1794, e 1798. Neles está sentenciado, que pelos cabeceiros inteiros se façam 3
ofícios de 10 passagens, e responsos anuais em todos os Domingos do ano com
suas respectivas ofertas, e pelos meios cabeceiros 3 meios ofícios com responsos
de meio ano, e afim se executa, sendo as ofertas destes metade dos cabeceiros
inteiros.
Há nesta igreja a
confraria do Santíssimo Sacramento por conta dos fregueses. Há a confraria do
Santo António, cuja festa fazem os devotos, e cujo fundo é, segundo minhas
lembranças, de 25$000 a 30$000 réis, os Livros foram, há meses, chamados à
Administração Geral para a aprovação das contas assim como o Livro das Contas da
irmandade da Senhora do Rosário, e por isso se não diz com toda a certeza
também se há esmolas, se faz festa a S. Sebastião.
Sim há também
nesta freguesia a irmandade do Santissímo Rosário, erecta, e estabelecida aqui
pela Ordem dos Pregadores em 1684 e cujas graças, jubileus, e indulgencias
concedidas pelo Santo Padre Leão X, Inocêncio XI, e outros, são imensas.
Declaro, que em 1684 se concedeu licença, mas rigorosamente só foi erecta, ou
para melhor dizer ampliada completamente em 1733m como dos seus estatutos, a
que me reporto. Tem presentemente 39 confrades, ou Irmãos. Tem por vivos, e
defuntos um Universo e missa cantada na véspera da festa; a missa no primeiro
Sábado de cada mês, tapete, e travesseiro e o corpo alumiado com 4 velas em
casa, e na igreja, etc. O seu fundo é de duzentos, a 300$000 réis, como melhor
há-de constar do Livro de Contas, que presentemente se acha na Administração
Geral, segundo diz o tesouro da irmandade.
Vai com esta
resposta o mapa da população da freguesia dos quatro anos, que se podem dizer
porem a causa (segundo se requer) da maior ou menor população nos diversos
anos, isso já disse, só a Deus pertence. Alguns filósofos a querem atribuir a
abundância de mariscos nos lugares marítimos, mas nesta freguesia não há
mariscos.
Nesta resposta vão
algumas coisas por aproximação, e informações, nem pode ser de outra sorte,
porque é impossível, Vossa Graça. Referem os Róis da freguesia nesses diversos
anos pessoas, ou famílias que aqui estiveram mas das quais, ninguém sabe dizer,
donde vieram, onde foram baptizadas, se são vivos, ou mortos, como pois se pode
afirmar, que essas pessoas têm mais, ou menos de 30 anos, se são vivos, ou
mortos? É impossível, isto prova, quanto é diferente a especulação da prática!
Portanto sobre estas não posso, nem devo jurar, o que sei de certo e refiro
neste mapa juro in verbo sacerdotis.
Residência de
Santa Cristina de Arões, 27 de Abril de 1842
O abade Antonio
Sérgio de Oliveira Cordeiro